sexta-feira, 9 de novembro de 2012

GEIPAC no Jornal Notícias do Dia

Na última terça-feira, dia 6/11, foi publicano na página 3 do Jornal Notícias do Dia (circulação em Joinville) um artigo do Laércio Pavanello, que recentemente defendeu sua dissertação sobre o comércio em Jlle no MPCS, e da Profa Sandra Guedes.

Como ficou difícil publicar a imagem, resolvemos compartilhar aqui no blog este belo texto, para que todos possam ler. Segue...

"Os Armazéns de Secos e Molhados nas Estradas Rurais de Joinville

    Tão importante quanto as casas comerciais das ruas centrais era o comércio localizado nas estradas rurais de Joinville como Rio Bonito, Estrada do Sul, Mildau e Comprida.  
      Um dos primeiros secos e molhados de que se registrou em Joinville era o pertencente a Gustav Mueller que estabeleceu-se no lugar chamado Águas Vermelhas em 1852. Em carta à família em 1853, Gustav faz menção ao progresso de seu negócio e a outro armazém pertencente a Carl Lange.
        O jornalista Crispim Mira relata em 1905 que “O commercio é notavelmente grande [...], que todos em grande escala importam vários gêneros de Hamburgo, Berlim, Paris e Londres.”

A diversidade dos secos e molhados na zona rural

     Era comum que junto aos secos e molhados da zona rural houvesse um salão para bailes e domingueiras onde trabalhava toda a família.
      Muitos namoros se iniciaram nas vendas e nos salões. Ao lermos as entrevistas depositadas no Arquivo Histórico de Joinville com antigos comerciantes esses fatos aparecem. Cristina Schramm, cuja família possuía um armazém e um salão na Estrada da Ilha, afirmou: “É, ajuntava aqui os casais para depois se casarem”. Norma Brüske, proprietária de secos e molhados e de salão na Dona Francisca, era considerada por muitos casamenteira.
    Outra atividade desenvolvida era a de açougue. Isto acontecia no comércio de Loni Jacob localizado na Estrada Comprida, no comércio do pai de Elvira Rother, no Vila Nova e no de Elly Streit na Estrada do Sul. Matavam porcos e também gado. Faziam linguiças e vendiam carne. Os clientes sabiam os dias em que poderiam buscar embutidos e carne fresca. 
     O bar era também explorado pelos comerciantes. Irineu Pensky com comércio no Vila Nova comentou em sua entrevista que seu avô, tocava bandoneon para os clientes “chegava de tarde lá pelas cinco e meia [...] aí ele começava a tocar música enquanto isso os fregueses vinham e compravam[...]”.
      Nos secos e molhados, principalmente as das áreas rurais, o vendeiro tinha um relacionamento com o cliente que, se não era amizade, pelo menos era de alguém que o conhecia pelo nome, de seus familiares, seu endereço, seu trabalho, entre tantos outros detalhes que só o tempo e convivência trazem. As gerações sucediam-se atrás do balcão, pois não éra incomum encontrar filhos que seguiram o caminho dos pais na casa comercial. Wilfredo Eberhardt com comércio no Rio da Prata, conta que seu pai era mais que um simples vendeiro: “[...] o meu pai foi taxista, o meu pai foi comerciante, foi delegado de polícia, juiz de paz, muitas vezes juiz de direito, era advogado, era conselheiro e muito mais, [...]. Obviamente ele era apenas um comerciante, mas desempenhava um papel especial junto à comunidade, pois era considerado mais instruído e influente. Esse papel de ouvinte, mas principalmente de conselheiro se repete em muitas entrevistas.
      Além de anotar as vendas em cadernetas para receber quando o agricultor vendesse sua safra, alguns entrevistados falavam também que o comerciante recebia dinheiro do cliente e o depositava pagando juros. Isso se dava também porque muitos agricultores falavam apenas alemão apesar de muitos terem nascido no Brasil.
     Simplesmente nenhuma cidade ou povoado pode viver sem os armazéns. Esse comércio, esse local de convívio, de trocas, de festa é que vive nas memórias de quem foi seu proprietário ou seu frequentador. A importância das casas comerciais, independentemente dos nomes que receberam como locais de sociabilidade são evidentes.
    Todas as cidades tiveram seus comércios, seus comerciantes e seus clientes. Todos eram parecidos: a grande porta aberta para a rua, as enormes janelas por onde se via os produtos expostos como o fumo de corda, os tamancos de madeira, as vassouras de piaçava entre tantos outros. O dono e seus familiares atrás do balcão, alguns com o lápis atrás da orelha a espera do cliente, mas também ávidos por alguma novidade. Sempre prontos a escutar e aconselhar." 

Laércio J. Pavanello, Historiador e Mestre em Patrimônio Cultural e Sociedade.
Sandra P. L. de Camargo Guedes, Doutora em História. Coordenadora do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade.
Fragmentos da Dissertação de Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade pela UNIVILLE “Ferramentas, fumo, farinha... Um Estudo sobre o Patrimônio Comercial de Joinville.”

SAB SUL


Desde quarta-feira, dia 7/11, está ocorrendo em Curitiba o VIII Encontro da SAB Sul, com o tema "Novas Perspectivas na Arqueologia: a Ciência Ressignificada".

O evento encerra hoje e  está sendo realizado no centro de Convenções de Curitiba. Alguns membros do Geipac estão participando e apresentando as pesquisas arqueológicas que estão desenvolvendo. Entre eles, a Profa. Dione, a Fernanda e o bolsista de biologia marinha Thiago. Parabéns turma!

Ainda em tempo, desejamos que tenham tido um excelente encontro e que a descida da serra com essa chuva seja tranquila!