Como ficou difícil publicar a imagem, resolvemos compartilhar aqui no blog este belo texto, para que todos possam ler. Segue...
"Os Armazéns de Secos e Molhados nas Estradas Rurais de Joinville
Tão importante
quanto as casas comerciais das ruas centrais era o comércio localizado nas
estradas rurais de Joinville como Rio Bonito, Estrada do Sul, Mildau e
Comprida.
Um dos primeiros secos e molhados de que se registrou em
Joinville era o pertencente a Gustav Mueller que estabeleceu-se no lugar
chamado Águas Vermelhas em 1852. Em carta à família em 1853, Gustav faz menção
ao progresso de seu negócio e a outro armazém pertencente a Carl Lange.
O jornalista Crispim Mira
relata em 1905 que “O commercio é notavelmente grande [...], que todos em
grande escala importam vários gêneros de Hamburgo, Berlim, Paris e Londres.”
A
diversidade dos secos e molhados na zona rural
Era comum que junto
aos secos e molhados da zona rural houvesse um salão para bailes e domingueiras
onde trabalhava toda a família.
Muitos namoros se iniciaram nas vendas e nos salões. Ao
lermos as entrevistas depositadas no Arquivo Histórico de Joinville com antigos
comerciantes esses fatos aparecem. Cristina Schramm, cuja família possuía um
armazém e um salão na Estrada da Ilha, afirmou: “É, ajuntava aqui os casais
para depois se casarem”. Norma Brüske, proprietária de secos e molhados e de salão
na Dona Francisca, era considerada por muitos casamenteira.
Outra atividade
desenvolvida era a de açougue. Isto acontecia no
comércio de Loni Jacob localizado na Estrada Comprida, no comércio do pai de Elvira Rother, no Vila Nova e no de Elly Streit na Estrada do Sul. Matavam
porcos e também gado. Faziam linguiças e vendiam carne. Os clientes sabiam os
dias em que poderiam buscar embutidos e carne fresca.
O bar era também
explorado pelos comerciantes. Irineu Pensky com comércio no Vila Nova comentou
em sua entrevista que seu avô, tocava bandoneon para os clientes “chegava de
tarde lá pelas cinco e meia [...] aí ele começava a tocar música enquanto isso
os fregueses vinham e compravam[...]”.
Nos secos e molhados, principalmente as das
áreas rurais, o vendeiro tinha um relacionamento com o cliente que, se não era
amizade, pelo menos era de alguém que o conhecia pelo nome, de seus familiares,
seu endereço, seu trabalho, entre tantos outros detalhes que só o tempo e
convivência trazem. As gerações sucediam-se atrás do balcão, pois não éra
incomum encontrar filhos que seguiram o caminho dos pais na casa comercial. Wilfredo Eberhardt com comércio no Rio da Prata, conta que
seu pai era mais que um simples vendeiro: “[...] o meu pai foi taxista, o meu
pai foi comerciante, foi delegado de polícia, juiz de paz, muitas vezes juiz de
direito, era advogado, era conselheiro e muito mais, [...]. Obviamente ele era
apenas um comerciante, mas desempenhava um papel especial junto à comunidade,
pois era considerado mais instruído e influente. Esse papel de ouvinte, mas
principalmente de conselheiro se repete em muitas entrevistas.
Além de anotar as
vendas em cadernetas para receber quando o agricultor vendesse sua safra,
alguns entrevistados falavam também que o comerciante recebia dinheiro do
cliente e o depositava pagando juros. Isso se dava também porque muitos
agricultores falavam apenas alemão apesar de muitos terem nascido no Brasil.
Simplesmente nenhuma cidade ou povoado pode viver sem
os armazéns. Esse comércio, esse local de convívio, de trocas, de festa é que
vive nas memórias de quem foi seu proprietário ou seu frequentador. A
importância das casas comerciais, independentemente dos nomes que receberam como
locais de sociabilidade são evidentes.
Todas as cidades
tiveram seus comércios, seus comerciantes e seus clientes. Todos eram
parecidos: a grande porta aberta para a rua, as enormes janelas por onde se via
os produtos expostos como o fumo de corda, os tamancos de madeira, as vassouras
de piaçava entre tantos outros. O dono e seus familiares atrás do balcão,
alguns com o lápis atrás da orelha a espera do cliente, mas também ávidos por
alguma novidade. Sempre prontos a escutar e aconselhar."
Laércio J. Pavanello, Historiador e Mestre
em Patrimônio Cultural e Sociedade.
Sandra P. L. de Camargo Guedes, Doutora em
História. Coordenadora do Programa de Mestrado em Patrimônio Cultural e
Sociedade.
Fragmentos da Dissertação de Mestrado em
Patrimônio Cultural e Sociedade pela UNIVILLE “Ferramentas, fumo, farinha... Um
Estudo sobre o Patrimônio Comercial de Joinville.”
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